Elas foram presas por causa do imperador romano, Lúcio Septímo Severo, que condenaria à morte aqueles que se considerassem cristãos.
Outros beatos e santos que a Igreja faz memória em 7 de março:
Santos Sátiro, Saturnino, Revocato e Secundino, que morreram na mesma perseguição. O último morreu no cárcere; deram mutuamente o ósculo santo e sucumbiram degolados ao golpe da espada, em Cartago [† 203]
Santo Eubúlio, companheiro de Santo Adrião, que dois anos depois dele, foi despedaçado pelos leões e trespassado pela lança, na Cesareia da Palestina [† 309]
Santos bispos Basílio, Eugénio, Agatodoro, Elpídio, Etério, Capitão e Efrém, mártires, em Quersoneso, na atual Ucrânia [† c. s. IV]
São Paulo o Simples, discípulo de Santo Antão, na Tebaida, região do Egipto [† s. IV]
São Gaudioso, bispo, em Bréscia, região da Itália [† s. V]
Santo Ardão Smaragdo, presbítero, no mosteiro de Aniane, na Septimânia, atualmente na França [† 843]
São Paulo, bispo, que, por defender o culto das sagradas imagens, foi expulso da pátria e morreu no exílio, em Prusa, cidade da Bitínia, na atual Turquia [† 850]
Beatos mártires João Larke e João Ireland, presbíteros, e Germano Gardiner, que, pela sua fidelidade ao Romano Pontífice, morreram enforcados em Tyburn, durante o reinado de Henrique VIII [† 1544]
Santa Teresa Margarida Rédi, virgem, que, tendo entrado na Ordem das Carmelitas Descalças, percorreu um árduo caminho de perfeição e morreu ainda jovem, em Florença, na Etrúria, hoje na Toscana, região da Itália [† 1770]
São João Baptista Nam Chong-sam, mártir, na Coreia [† 1866]
Santos mártires Simeão Berneux, bispo, Justo Ranfer de Bretenières, Luís Beaulieu e Pedro Henrique Dorie, presbíteros da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris, decapitados por afirmarem audazmente que vieram à Coreia para salvar as almas no nome de Cristo, em Sai-Nam-Hte, na Coreia [† 1866]
Beato José Olallo Valdés, religioso da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, em Camaguey, cidade de Cuba [† 1889]
Beato Leónidas Fedorov, bispo e mártir, que, exercendo o ministério como exarca apostólico dos católicos russos do Rito Bizantino, perante um regime hostil à religião, mereceu ser discípulo fiel de Cristo até à morte, Em Kirov, cidade da Rússia [† 1935]
Santas Perpétua e Felicidade
As Santas Perpétua e Felicidade são figuras veneradas na tradição cristã como mártires do início do século III, conhecidas por sua coragem e fé inabalável diante da perseguição romana. Elas morreram em Cartago, no norte da África (atual Tunísia), no ano 203, durante o reinado do imperador Septímio Severo. Sua história é um testemunho poderoso de devoção a Cristo, especialmente para mulheres, mães e grávidas, das quais são consideradas protetoras. Abaixo, apresento um resumo detalhado sobre suas vidas, martírio, legado e devoção.
Perpétua e Felicidade viveram em Cartago, uma importante cidade da província romana da África, no início do século III. Era um período de intensas perseguições aos cristãos, especialmente sob o reinado de Septímio Severo (193-211). Embora algumas fontes tradicionais mencionem um decreto de Severo proibindo conversões ao cristianismo, historiadores modernos questionam a existência desse decreto, sugerindo que as perseguições podem ter sido mais locais do que imperiais. O cristianismo, ainda uma religião minoritária, era visto como uma ameaça à ordem romana por sua recusa em adorar os deuses pagãos e o imperador.
Perpétua: Vibia Perpétua era uma jovem nobre de 22 anos, casada e mãe de um bebê recém-nascido. Pertencia a uma família rica e respeitada, mas seu pai era pagão, enquanto sua mãe e um de seus irmãos provavelmente eram cristãos. Perpétua era uma catecúmena (em preparação para o batismo) quando foi presa.
Felicidade: Era uma jovem escrava de Perpétua, também cristã e catecúmena. Estava grávida de oito meses no momento da prisão e deu à luz uma menina na cadeia, pouco antes de seu martírio.
Ambas compartilhavam uma fé profunda, e sua relação, apesar da diferença de classe social, demonstra a igualdade promovida pelo cristianismo, que transcendia as barreiras sociais da época.
Em 203, Perpétua, Felicidade e outros cristãos, incluindo os catecúmenos Revocato, Saturnino e Secundino, foram presos em Cartago por professarem sua fé. Junto a eles estava o diácono Sáturo, que, embora não tenha sido inicialmente detido, apresentou-se voluntariamente para acompanhar os mártires. A prisão ocorreu durante uma onda de repressão aos cristãos, possivelmente motivada por autoridades locais.
Perpétua escreveu um diário na prisão, um dos textos cristãos mais antigos e valiosos, conhecido como A Paixão das Santas Perpétua e Felicidade (Passio sanctarum Perpetuae et Felicitatis). Nesse relato, ela descreve as condições desumanas do cárcere: “Nos jogaram no cárcere e eu fiquei consternada, porque nunca tinha estado em um lugar tão escuro. O calor era insuportável e éramos muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Parecia que ia morrer de calor e de asfixia.” Ela também expressa sua angústia por estar separada de seu filho pequeno, que dependia de seu leite.
Apesar das condições, os prisioneiros conseguiram subornar os guardas para serem transferidos a uma cela menos sufocante, onde havia luz solar. Perpétua pôde amamentar seu filho, o que lhe trouxe alívio. Durante a prisão, ela e Felicidade, que ainda não haviam sido batizadas, receberam o sacramento do batismo, oficializando sua pertença a Cristo.
Felicidade, grávida, enfrentava um dilema: a lei romana proibia a execução de mulheres grávidas. Ela temia que seu martírio fosse adiado, separando-a de seus companheiros. Os cristãos oraram fervorosamente, e, dois dias antes da execução, Felicidade deu à luz uma menina em meio a grandes dores. Um carcereiro zombou dela, dizendo: “Se você sofre tanto agora, o que fará quando enfrentar as feras?” Ela respondeu com firmeza: “Agora sou eu que sofro, mas no martírio será Cristo que sofrerá por mim.” A criança foi entregue a cristãos para ser criada.
No dia 7 de março de 203, Perpétua, Felicidade e seus companheiros foram levados ao anfiteatro de Cartago para serem executados durante os jogos em celebração ao aniversário do imperador. Antes da execução, eles celebraram uma Ceia Eucarística na prisão, com a comunhão trazida por dois diáconos, despedindo-se com o “beijo da paz”.
Os homens, incluindo Sáturo, Saturnino e Revocato, foram atacados por feras, como leopardos e ursos. Sáturo, que havia convertido um carcereiro chamado Pudente, foi milagrosamente poupado por um urso, mas acabou morto por um leopardo.
Perpétua e Felicidade foram expostas a touros e vacas selvagens. Perpétua foi a primeira a ser atingida, mas, ao ver Felicidade ferida, ajudou-a a se levantar, demonstrando amor e solidariedade. Perpétua também recompôs o vestido rasgado de Felicidade, num gesto de dignidade que comoveu momentaneamente a multidão pagã.
Como as feras não as mataram, os soldados as degolaram. Felicidade foi a primeira a ser executada. Quando chegou a vez de Perpétua, o carrasco errou o golpe, causando-lhe grande dor. Corajosamente, ela mesma indicou o local correto para o corte, morrendo com dignidade.
Antes de morrer, Perpétua encorajou seus companheiros com as palavras: “Fiquem firmes na fé e amem-se uns aos outros, todos vocês! Não deixem que o martírio seja pedra de tropeço para vocês.”
O diário de Perpétua é um documento único, escrito em primeira pessoa, o que o torna um dos primeiros relatos autobiográficos de uma mulher cristã. Ele foi completado por um redator anônimo, possivelmente Tertuliano, que acrescentou detalhes sobre o martírio. O texto, conhecido como A Paixão das Santas Perpétua e Felicidade, sobreviveu em versões em latim e grego e é considerado uma joia da literatura cristã primitiva.
No diário, Perpétua descreve várias visões que teve na prisão:
Em uma delas, ela sobe uma escada perigosa com armas e um serpente na base, interpretando isso como um sinal de que enfrentaria não apenas feras, mas o próprio diabo. No topo, ela encontra um jardim, simbolizando o paraíso.
Em outra visão, Perpétua vê seu irmão Dinócrates, que morrera de câncer aos 7 anos sem batismo. Inicialmente, ele aparece sofrendo, mas, após suas orações, ela o vê feliz e curado, o que gerou debates teológicos sobre a salvação de não batizados.
Na véspera do martírio, Perpétua sonha que derrota um egípcio selvagem, interpretando isso como uma vitória sobre o mal.
Essas visões reforçaram sua convicção de que o martírio era um chamado divino. Alguns estudiosos sugerem que o texto pode refletir influências do montanismo, uma corrente cristã que enfatizava profecias e visões, mas isso não é consenso.
Perpétua e Felicidade foram reconhecidas como mártires imediatamente após sua morte, e seu culto se espalhou rapidamente. Elas são mencionadas no Cânon Romano da Missa e na Ladainha de Todos os Santos, indicando sua importância na Igreja primitiva. Santo Agostinho, que viveu em Cartago no século IV, elogiava seus escritos, que eram lidos nas igrejas para edificação dos fiéis.
A festa litúrgica de Santas Perpétua e Felicidade é celebrada em 7 de março, data de seu martírio. Originalmente fixada nesse dia no calendário romano do século IV (Calendário Filocaliano), a data foi temporariamente alterada para 6 de março no início do século XX, mas foi restaurada a 7 de março na revisão do Calendário Romano Geral de 1969. Outras igrejas, como a Luterana e a Episcopal, também as comemoram nessa data.
Uma basílica, a Basilica Maiorum, foi construída sobre seu túmulo em Cartago, e uma inscrição antiga com seus nomes foi encontrada nas ruínas da cidade. A cripta de Santa Perpétua também foi descoberta, reforçando a veneração local.
Santas Perpétua e Felicidade são padroeiras de:
Mulheres grávidas e mães, devido às circunstâncias de seus martírios.
Mártires e aqueles que enfrentam perseguições por sua fé.
Na iconografia, elas são frequentemente representadas:
Com vestes de mártires, segurando palmas (símbolo do martírio).
Perpétua às vezes aparece com seu filho, e Felicidade com sua filha recém-nascida.
Em algumas imagens, elas são mostradas enfrentando feras ou sendo degoladas.
A história de Perpétua e Felicidade é um testemunho da força da fé cristã em meio à adversidade. Elas inspiram especialmente as mulheres, mostrando que a santidade não depende de classe social, idade ou circunstâncias. Sua coragem diante do martírio e o amor mútuo que demonstraram, mesmo em meio ao sofrimento, são exemplos de solidariedade e entrega a Deus.
O diário de Perpétua é um documento histórico valioso, não apenas por sua espiritualidade, mas também por oferecer um raro vislumbre da vida de uma mulher cristã no início do cristianismo. Ele destaca a sensibilidade feminina de Perpétua, sua preocupação com o filho e sua determinação em permanecer fiel a Cristo, mesmo enfrentando a pressão de seu pai, que a implorava para renunciar à fé.
A frase de Tertuliano, “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos”, aplica-se perfeitamente a elas. Seu martírio fortaleceu a comunidade cristã de Cartago e continua a inspirar fiéis ao longo dos séculos. Hoje, elas são lembradas como modelos de perseverança, especialmente durante a Quaresma, período em que a Igreja reflete sobre o sacrifício e a entrega.
Uma oração tradicional a Santas Perpétua e Felicidade é:
“Deus Todo-poderoso, que destes às mártires Santas Perpétua e Felicidade a graça de sofrer pelo Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa fé, como elas não hesitaram em morrer por Vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”