Viveu em um período difícil da história da Igreja, pois foi quando ocorreu a Guerra dos Cem Anos, quando forças políticas eram capazes de intervir fortemente nas eleições papais.
Outros beatos e santos que a Igreja faz memória em 05 de abril:
Beato Mariano da Mata Aparício, presbítero da Ordem de Santo Agostinho, em São Paulo, no Brasil († 1983).
Santa Irene, virgem e mártir na Grécia († 304)
Santa Ferbuta, viúva, irmã de São Simeão, bispo, a qual, juntamente com a sua serva, sofreu o martírio no reinado de Sapor II, no Iraque († c. 342).
Cento e onze homens e nove mulheres, mártires, que, reunidos de vários lugares nas cidades régias da Pérsia, por recusarem firmemente negar a Cristo e adorar o fogo, foram queimadas por ordem do mesmo rei, no Iraque († 344).
Santos mártires que, na perseguição do rei ariano Genserico, foram massacrados na igreja num dia da Páscoa na Argélia († s. V).
São Geraldo, abade, que pertencia ao mosteiro de Corbie quando foi eleito abade de Laon e, depois de santas peregrinações, se retirou na densa floresta, na França († 1095).
Santo Alberto, bispo, que consagrou toda a sua vida à oração contínua a Deus e à solicitude pelo bem comum dos pobres, na Itália († 1127).
Santa Juliana, virgem da Ordem de Santo Agostinho, que tinha sido prioresa do mosteiro de Mont-Cornillon, na França († 1258).
Santa Catarina Tomás, virgem, que, entrando na Ordem das Canonisas Regrantes de Santo Agostinho, foi insigne no desprezo de si mesma e na abnegação da sua vontade, na Espanha († 1574).
Santa Maria Crescência Höss, virgem da Ordem Terceira de São Francisco, que procurou comunicar aos outros o fogo do Espírito Santo que nela ardia, na Alemanha († 1744).
São Vicente Ferrer
São Vicente Ferrer (23 de janeiro de 1350, Valência, Espanha – 5 de abril de 1419, Vannes, França) é um dos santos mais célebres da Igreja Católica, conhecido como pregador, missionário, taumaturgo e "Anjo do Apocalipse". Membro da Ordem dos Pregadores (dominicanos), ele desempenhou um papel crucial na Europa do século XIV e XV, especialmente durante o Grande Cisma do Ocidente. Sua vida foi marcada por fervor religioso, milagres, esforços para unir a Igreja e conversões em massa. Abaixo está um resumo abrangente sobre sua vida, obras, contribuições e legado, com base em fontes históricas e tradições católicas.
Vicente Ferrer nasceu em Valência, no Reino de Aragão (atual Espanha), em uma família nobre e piedosa. Seu pai, Guillem Ferrer, era notário, e sua mãe, Constança Miquel, era conhecida por sua caridade. A família tinha raízes catalãs e valencianas, e Vicente cresceu em um ambiente de forte espiritualidade cristã. Ele era o quarto de oito filhos, e dois de seus irmãos também seguiram carreiras eclesiásticas:
Bonifácio Ferrer, que se tornou prior da Cartuxa de Portaceli.
Outro irmão foi advogado e diplomata.
Desde jovem, Vicente mostrou inclinação para a vida religiosa. Segundo a tradição, aos cinco anos já jejuava às quartas e sextas-feiras, imitando os monges. Sua inteligência e piedade foram notadas cedo, e ele começou seus estudos aos 14 anos, destacando-se em filosofia e teologia.
Em 1367, aos 17 anos, Vicente ingressou na Ordem dos Pregadores (dominicanos) em Valência, atraído pelo carisma de São Domingos de Gusmão, que enfatizava a pregação e a defesa da fé. Ele fez seus votos em 1368 e foi enviado para estudar em Barcelona, Lérida e Toulouse, onde se aprofundou em teologia, lógica, direito canônico e Sagradas Escrituras. Sua formação foi marcada pelo rigor intelectual dos dominicanos, conhecidos como "cães de guarda da fé" (um trocadilho com Domini canes, "cães do Senhor").
Vicente foi ordenado sacerdote em 1374 e começou a ensinar teologia em Valência e Lérida. Sua habilidade como pregador logo se destacou, combinando eloquência, conhecimento bíblico e um estilo direto que cativava multidões. Ele também escreveu tratados teológicos, como o Tratado sobre a Vida Espiritual, que reflete sua espiritualidade prática e ascética.
Vicente viveu durante um dos períodos mais turbulentos da história da Igreja: o Grande Cisma do Ocidente (1378–1417), quando dois (e depois três) papas reivindicavam o trono de São Pedro, dividindo a cristandade. Ele inicialmente apoiou o antipapa Clemente VII, sediado em Avinhão, influenciado por seu mentor, o cardeal Pedro de Luna (futuro antipapa Bento XIII). No entanto, Vicente mais tarde percebeu a necessidade de unir a Igreja e desempenhou um papel decisivo na resolução do cisma.
Aos 40 anos, em 1390, Vicente passou por uma experiência mística que transformou sua vida. Segundo a tradição, durante uma grave doença, ele teve uma visão de Jesus Cristo, acompanhado por São Domingos e São Francisco, que o comissionou como pregador itinerante para preparar o mundo para o Juízo Final. A partir de então, ele se autoproclamou "legado a latere Christi" (enviado de Cristo) e começou suas missões pela Europa, pregando a penitência e a conversão com um fervor apocalíptico.
Características de sua Pregação
Estilo: Vicente pregava em valenciano, catalão, castelhano, latim e, milagrosamente, em outras línguas que não dominava, sendo entendido por multidões de diferentes nacionalidades (atribuído ao dom de línguas).
Temas: Seus sermões enfatizavam o arrependimento, a moral cristã, o combate ao pecado e a proximidade do Juízo Final. Ele usava imagens vívidas do Apocalipse, ganhando o apelido de "Anjo do Apocalipse" (baseado em Apocalipse 14:6-7).
Impacto: Suas pregações atraíam milhares de pessoas, incluindo nobres, clérigos e camponeses. Ele pregava ao ar livre, em praças e campos, muitas vezes por horas, e suas palavras levavam a conversões em massa, confissões públicas e mudanças de vida.
Viagens Missionárias
Entre 1399 e 1419, Vicente percorreu a Espanha, França, Itália, Suíça e Países Baixos, pregando em cidades e vilarejos. Ele era acompanhado por um séquito de seguidores, incluindo flagelantes que se penitenciavam publicamente, o que causava admiração e controvérsia. Seus esforços missionários incluíam:
Conversão de Judeus e Muçulmanos: Vicente é creditado por converter milhares de judeus e muçulmanos ao cristianismo, especialmente na Espanha. No entanto, suas pregações contra judeus, embora comuns no contexto medieval, contribuíram para tensões religiosas, como os pogroms de 1391 em Valência.
Reforma Moral: Ele combatia vícios como adultério, jogo e usura, promovendo a reconciliação entre famílias e comunidades.
Milagres: A tradição atribui a Vicente inúmeros milagres, como curas, ressurreições de mortos, multiplicação de alimentos e até a interrupção de tempestades. Esses prodígios reforçavam sua autoridade como "homem de Deus".
Vicente inicialmente serviu como conselheiro do antipapa Clemente VII e, após sua morte, de Bento XIII (Pedro de Luna), com quem tinha laços de amizade. Ele foi nomeado confessor e mestre do palácio papal em Avinhão. No entanto, ao perceber que a obstinação de Bento XIII prolongava o cisma, Vicente mudou de posição.
Em 1416, no Concílio de Perpignan, ele retirou seu apoio a Bento XIII e passou a defender a unificação da Igreja sob um único papa. Sua pregação influenciou o rei Fernando I de Aragão a abandonar Avinhão, pavimentando o caminho para o Concílio de Constança (1414–1418), que elegeu Martinho V como papa legítimo, encerrando o cisma. Vicente é considerado um dos principais artífices da reunificação da Igreja.
Embora Vicente seja mais conhecido como pregador, ele deixou alguns escritos importantes:
Tratado sobre a Vida Espiritual: Um guia para a vida cristã, enfatizando a oração, a penitência e a luta contra as tentações.
Sermões: Muitos de seus sermões foram registrados por escribas e preservados, oferecendo insights sobre sua teologia e estilo.
Cartas: Correspondências com reis, papas e bispos, incluindo apelos pela unidade da Igreja.
Vicente Ferrer morreu em 5 de abril de 1419, em Vannes, na Bretanha (França), durante uma missão de pregação. Ele estava exausto após décadas de viagens e penitências. Seu corpo foi sepultado na catedral de Vannes, onde se tornou local de peregrinação. Milagres póstumos foram relatados, aumentando sua fama de santidade.
Ele foi canonizado em 1455 pelo Papa Calisto III, um valenciano que conhecia sua reputação. Sua festa litúrgica é celebrada em 5 de abril. Vicente é padroeiro de Valência, dos construtores, encanadores e órfãos, além de ser invocado contra epilepsia e dores de cabeça.
Religioso: Vicente foi um dos maiores pregadores da Idade Média, comparado a São Bernardo de Claraval e São João Crisóstomo. Sua capacidade de mobilizar multidões antecipou movimentos revivalistas modernos.
Cultural: Ele contribuiu para a identidade cristã da Espanha, especialmente em Valência, onde é uma figura icônica.
Controvérsias: Suas pregações contra judeus, embora refletissem o antijudaismo medieval, são criticadas hoje por incitarem intolerância. Alguns historiadores questionam o número de conversões forçadas atribuídas a ele.
Milagres: A Igreja reconhece oficialmente muitos milagres, como a cura de enfermos e a proteção de cidades contra desastres.
"Ó Deus, que enriquecestes a Igreja com as pregações e os milagres de São Vicente Ferrer, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de vivermos plenamente a fé cristã e de anunciarmos com coragem o vosso Evangelho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém."