São João José da Cruz disse: "Tudo o que Deus permite, permite para o nosso bem"
Outros santos e beatos celebrados em 5 de março:
São Teófilo, bispo de Cesareia, na Palestina [† 195]
São Cónon, mártir, na Turquia [† c. 250]
São Lúcio, Papa [† 254]
São Focas, mártir na Turquia [† c.s. IV]
Santo Adrião, mártir na Palestina [† 309]
São Gerásimo, anacoreta, praticou grandes obras de penitência, oferecendo direção aos que o procuravam, na Palestina [† 475]
São Kierano ou Cirano, bispo e abade na Irlanda [† 530]
São Virgílio, bispo, na França [† c. 618]
Beato Cristóvão Macassóli, presbítero da Ordem dos Menores, insigne pela sua pregação e pela caridade para com os pobres na Itália [† 1485]
Beato Jeremias de Valáchia (João Kostistik), religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos [† 1625]
São João José da Cruz
São João José da Cruz é um santo católico venerado por sua vida de santidade, austeridade e dedicação aos pobres. Ele é um exemplo de humildade e devoção, tendo vivido no século XVII e início do XVIII, e é particularmente lembrado por sua ligação com a Ordem dos Franciscanos Descalços, conhecidos como Alcantarinos, uma reforma iniciada por São Pedro de Alcântara. Abaixo, apresento uma visão detalhada sobre sua vida, obras, espiritualidade e legado.
São João José da Cruz nasceu em 15 de agosto de 1654, na cidade de Ponte, localizada na ilha de Ischia, próxima a Nápoles, Itália. Seu nome de batismo era Carlos Caetano Calosirto, e ele era filho de José Calosinto e Laura Gargiulo, uma família nobre e rica, mas profundamente religiosa. Desde muito jovem, Carlos demonstrou uma inclinação para a espiritualidade. Ele tinha uma devoção especial à Virgem Maria, a ponto de transformar um quarto isolado de sua casa em um pequeno oratório, onde passava horas em oração e silêncio. Essa piedade precoce o distinguia de outras crianças, e ele evitava companhias que pudessem comprometer sua pureza espiritual.
Carlos recebeu sua educação inicial no Colégio dos Agostinianos, na própria ilha de Ischia, onde aprendeu os fundamentos da fé cristã e os primeiros estudos acadêmicos. Sua formação religiosa foi sólida, e a influência de uma família devota o ajudou a cultivar uma fé prática, marcada pela oração, jejum e devoção diária.
Aos 15 anos, Carlos sentiu um forte chamado para a vida religiosa. Em 1671, ingressou na Ordem dos Franciscanos Descalços, conhecidos como Alcantarinos, uma ramificação da Ordem Franciscana reformada por São Pedro de Alcântara, que enfatizava a austeridade e a pobreza evangélica. A escolha dessa ordem reflete sua atração por uma vida de disciplina rigorosa e simplicidade, inspirada pelo exemplo de São Francisco de Assis, a quem ele admirava profundamente. Ao entrar na ordem, adotou o nome de João José da Cruz, simbolizando sua devoção à Paixão de Cristo e seu desejo de carregar a cruz em sua vida.
Fez seu noviciado no convento de Santa Lúcia, em Nápoles, sob a orientação do padre José Robles. Durante esse período, João José se destacou por sua obediência e fervor espiritual. Ele era conhecido por práticas ascéticas intensas, como flagelar-se em penitência, demonstrando sua devoção à Paixão de Cristo.
João José foi ordenado sacerdote em 1677, aos 23 anos, embora tenha aceitado a ordenação com relutância, pois preferia a humildade e o serviço simples. Logo após, aos 24 anos, foi nomeado mestre dos noviços no convento de Piedimonte d'Alife, onde também se tornou guardião da comunidade. Sua liderança era marcada pela humildade e pelo exemplo: ele realizava as tarefas mais simples e humildes, mesmo sendo superior.
Uma das características marcantes de João José foi sua habilidade prática e dedicação à construção de espaços para a vida religiosa. Em 1674, com apenas 20 anos, ele foi enviado com outros 11 frades para fundar um convento em Piedimonte d'Alife. Enfrentando dificuldades iniciais, ele tomou a iniciativa de começar a obra com suas próprias mãos, juntando pedras, usando cal e madeira, e cavando os alicerces com um enxadão. Inicialmente, o povo local o considerou louco, mas logo se uniu a ele, impressionado por sua determinação, e o convento foi concluído em pouco tempo, tornando-se um grande centro espiritual.
Mais tarde, João José construiu um pequeno eremitério na encosta de um bosque próximo a Piedimonte, chamado "A Solidão". Esse local, ainda hoje, é um ponto de peregrinação para aqueles que buscam retiros espirituais. Ele também foi responsável pela construção do Convento do Granelo, em Portici, Nápoles, demonstrando seu talento como construtor e sua visão de criar espaços para a oração e a vida comunitária.
Em 1702, João José foi nomeado vigário provincial dos Alcantarinos na Itália. Durante seu mandato, ele trabalhou incansavelmente para unificar os ramos italiano e espanhol da ordem, que haviam se separado. Sua liderança trouxe um renascimento espiritual à ordem, expandindo-a de norte a sul da Itália e atraindo cerca de 200 novos religiosos. Ele também reorganizou os cursos de formação e abriu várias casas religiosas, fortalecendo a observância das regras originais da Reforma de São Pedro de Alcântara.
Como provincial, João José enfrentou críticas e calúnias, especialmente durante o processo de reunificação da ordem. Em resposta, ele fez um voto de silêncio, suportando as adversidades com paciência e serenidade, o que lhe valeu ainda mais respeito entre seus contemporâneos.
João José da Cruz era conhecido por sua vida austera e despojada. Ele comia apenas uma vez por dia, dormia poucas horas em um leito simples feito de couro e uma coberta de lã, e levantava-se à meia-noite para orar e agradecer a Deus pelo novo dia. Sua mobília consistia apenas em um crucifixo, uma imagem de Nossa Senhora e um livro de orações, refletindo sua busca pela pobreza evangélica.
Ele tinha uma devoção especial à Virgem Maria, mantendo uma pequena imagem dela em sua escrivaninha e recorrendo a ela em oração antes de tomar decisões importantes. Sua espiritualidade era profundamente marcada pelo amor a Jesus Crucificado e pela imitação de São Francisco de Assis, seu modelo de vida. João José também era conhecido por sua humildade e dedicação aos pobres e doentes, a quem servia com grande compaixão, muitas vezes sendo procurado por suas intercessões e milagres.
João José foi agraciado com o dom dos milagres, e muitos prodígios foram atribuídos à sua intercessão, especialmente em favor dos pobres e doentes. Ele se tornou famoso ainda em vida, sendo venerado pelo povo de Nápoles e arredores por sua santidade e caridade. Pessoas de todas as classes sociais, incluindo figuras ilustres como São Francisco de Jerônimo e Santo Afonso Maria de Liguori, procuravam seus conselhos espirituais.
São João José da Cruz faleceu em 5 de março de 1734, aos 80 anos, no convento de Santa Lúcia, em Nápoles, onde passou seus últimos 12 anos de vida. Ele foi sepultado no mesmo convento, e sua fama de santidade continuou a crescer após sua morte. Foi beatificado em 1789 e canonizado pelo Papa Gregório XVI em 26 de maio de 1839, junto com outros santos, como Francisco de Jerônimo e Afonso Maria de Liguori. Suas relíquias foram trasladadas para o convento franciscano da ilha de Ischia, sua terra natal, onde são veneradas até hoje.
A Igreja celebra sua festa litúrgica em 5 de março, dia de sua morte, considerado seu "dies natalis" (nascimento para o céu).
São João José da Cruz é o padroeiro da ilha de Ischia, junto com Santa Restituta. Ele é um exemplo de santidade através da pobreza, da obediência e do serviço aos mais necessitados. Sua vida ensina que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no conforto, mas na união com Deus por meio da oração e do amor ao próximo.
Uma oração tradicional a São João José da Cruz reflete sua espiritualidade e intercessão:
"São João José da Cruz, vós que edificastes com vossas próprias mãos em uma obediência incontestável, dá-nos este grande dom de dizer sempre 'sim' à vontade de Deus, mesmo em meio às nossas dificuldades. Que vivamos toda nossa vida em conformidade aos desígnios de Nosso Senhor, para que um dia possamos estar juntos num só único louvor a Quem nos criou unicamente para sermos santos. Por Cristo nosso Senhor. Amém."
João José da Cruz influenciou muitos durante sua vida, incluindo santos como Afonso Maria de Liguori, que buscavam seus conselhos. Sua dedicação à reforma dos conventos e à vida de santidade deixou um impacto duradouro na Ordem Franciscana e na Igreja em geral. Ele é lembrado como um modelo de humildade, perseverança e amor a Deus, especialmente em tempos de provação.
Embora a narrativa tradicional sobre São João José da Cruz seja amplamente aceita, é importante considerar o contexto histórico em que ele viveu. O século XVII foi um período de tensões religiosas na Europa, com a Contrarreforma em pleno vigor. A ênfase na austeridade e nos milagres pode ter sido amplificada pela Igreja da época para reforçar a fé católica em meio aos desafios do protestantismo. Além disso, a falta de registros detalhados sobre sua vida pessoal e os relatos hagiográficos podem idealizar sua figura, como era comum na literatura religiosa da época. No entanto, sua influência espiritual e o testemunho de sua caridade são inegáveis, como evidenciado pela veneração popular e pelos relatos de seus contemporâneos.
São João José da Cruz permanece uma figura inspiradora para aqueles que buscam viver uma vida de simplicidade, oração e serviço, mostrando que a santidade pode ser alcançada mesmo em meio às dificuldades e provações.