São Zacarias era de origem grega que estava estabelecido na Calábria e seu pai chamava-se Policrônio. Seu nome significa “o Senhor lembra”.
Outros beatos e santos que a Igreja faz memória em 22 de março:
Santo Epafrodito, a quem o apóstolo São Paulo chama irmão, colaborador e companheiro de combate.
São Paulo, bispo, na França († s. III)
Santos Calínico e Basilissa, mártires, na atual Turquia († data inc.)
São Basílio, presbítero e mártir, que, durante todo o mandato do imperador Constâncio, resistiu fortemente aos arianos, e em seguida, no tempo do imperador Juliano, tendo orado a Deus para que nenhum cristão se afastasse da fé, foi preso e entregue ao procônsul da província e, depois de muitos tormentos, consumou o seu martírio. († 362)
Santa Lia, viúva romana, cujas virtudes e partida deste mundo para Deus receberam os louvores de São Jerónimo. († c. 383)
São Benvindo Scotívoli, bispo, que, eleito pelo papa Urbano IV para esta sede, conciliou a paz entre os cidadãos e, conforme o espírito dos Frades Menores, quis morrer sobre a terra nua. († 1282)
São Nicolau Owen, religioso da Companhia de Jesus e mártir, que durante muitos anos construiu refúgios para esconder os sacerdotes; e por isso, no reinado de Jaime I, depois de ser encarcerado e durissimamente torturado e finalmente lançado no cavalete, foi gloriosamente ao encontro de Cristo Senhor, na Inglaterra († 1606)
Beato Francisco Chartier, presbítero e mártir, que, durante a Revolução Francesa, morreu decapitado em ódio ao sacerdócio, na França († 1794)
Beatos Mariano Górecki e Bronislau Komorowski, presbíteros e mártires, que, durante a ocupação militar da sua pátria por sequazes de uma doutrina hostil à religião, foram fuzilados em ódio à fé cristã, na Polónia († 1940)
Beato Clemente Augusto Graf von Galen, bispo, que reflectiu entre o clero e o povo a imagem evangélica do bom Pastor; lutou abertamente conta os erros do nacional-socialismo e contra a violação dos direitos do homem e da Igreja e pela sua coragem foi chamado “o leão de Münster”, na Alemanha († 1947)
São Zacarias: o Papa
São Zacarias, Papa da Igreja Católica, foi uma figura marcante do século VIII, conhecido por sua habilidade diplomática, administração eficaz e contribuições para a estabilização da Igreja em um período de grandes desafios políticos e religiosos. Ele governou como Sumo Pontífice de 741 até sua morte em 752 e é celebrado como santo, com sua memória litúrgica marcada em 22 de março (ou 15 de março em algumas tradições, dia de seu sepultamento). Aqui está tudo o que se sabe sobre ele:
São Zacarias nasceu por volta de 679, em uma família de origem grega estabelecida na Calábria, no sul da Itália, especificamente em Santa Severina. Seu pai, segundo o Liber Pontificalis, chamava-se Policrônio (ou Polychronius). Antes de se tornar Papa, Zacarias provavelmente era diácono da Igreja Romana, pois assinou os decretos do Concílio Romano de 732, convocado por seu predecessor, São Gregório III. Sua formação e virtudes — descritas como gentileza, caráter conciliador e caridade para com o clero e o povo — o tornaram uma escolha natural para o papado.
Ele foi eleito Papa em 10 de dezembro de 741 (ou, segundo algumas fontes, 3 ou 5 de dezembro), apenas cinco dias após a morte de Gregório III, refletindo a urgência das necessidades da Igreja em um tempo de crise. Sua eleição por unanimidade marcou o fim da prática de esperar a confirmação do imperador bizantino ou do exarca de Ravena, sinalizando uma crescente independência do papado em relação ao Império do Oriente. Zacarias foi o último Papa de origem grega e o último a notificar oficialmente sua eleição à corte de Constantinopla.
O pontificado de Zacarias ocorreu em um momento de transição turbulenta. O Império Bizantino, sob Constantino V, enfrentava instabilidade interna e a controvérsia iconoclasta, enfraquecendo sua influência sobre Roma. Enquanto isso, os lombardos, um povo germânico que dominava o norte da Itália, ameaçavam os territórios papais no Ducado de Roma. Zacarias assumiu o trono de Pedro em um cenário de tensões com o Oriente e pressões militares no Ocidente, exigindo dele uma liderança astuta e conciliadora.
Diferente de Gregório III, que buscou alianças militares contra os lombardos, Zacarias optou pela diplomacia. Logo no início de seu pontificado, em 742, ele negociou com o rei lombardo Liutprando em Terni. Esse encontro resultou na devolução de quatro cidades (Ameria, Horta, Polimartium e Blera) ao Ducado de Roma, além de patrimônios eclesiásticos confiscados pelos lombardos nos últimos 30 anos. Uma trégua de 20 anos foi assinada, trazendo alívio temporário aos territórios papais. Após a volta a Roma, o povo celebrou com uma procissão solene em São Pedro, e Zacarias mandou construir uma capela em homenagem a Liutprando na Basílica.
Em 743, porém, Liutprando planejou atacar Ravena, então sob controle bizantino. Zacarias enviou emissários sem sucesso e, por fim, foi pessoalmente a Ravena e depois a Pavia, onde, na véspera da festa de São Pedro e São Paulo, celebrou a vigília e convenceu o rei a desistir da invasão. Após a morte de Liutprando em 744, seu sucessor Ratchis sitiou Perúgia em 749. Zacarias interveio novamente, comovendo Ratchis a abandonar o cerco e conceder paz aos romanos. Impressionado pelo Papa, Ratchis renunciou ao trono com sua esposa Tasia e filha Rotrudes, tornando-se monge em Monte Cassino, enquanto sua família ingressava em um convento.
Zacarias desempenhou um papel histórico ao legitimar a ascensão da dinastia carolíngia na França. Em 747, Pepino, o Breve, mordomo do palácio e governante de fato dos francos, consultou o Papa sobre quem deveria ser rei: o monarca nominal Childerico III, da dinastia merovíngia, ou aquele que exercia o poder real. Zacarias respondeu que “quem o é de fato, deve sê-lo de direito”, aprovando a deposição de Childerico e a coroação de Pepino como rei em 751, ungido por São Bonifácio em nome do Papa. Esse ato marcou a primeira vez que um Papa investiu um soberano secular, estabelecendo uma aliança duradoura entre o papado e os carolíngios, que culminaria na coroação de Carlos Magno como imperador em 800.
Zacarias também apoiou a evangelização da Germânia por São Bonifácio, confirmando os bispados de Würzburg, Büraburg e Erfurt em 742 e os metropolitanos de Rouen, Reims e Sens. Ele colaborou com Bonifácio no Concílio Germânico e no Sínodo de Soissons, promovendo reformas na Igreja franca.
Zacarias foi um administrador excepcional. Restaurou o Palácio de Latrão, em Roma, e embelezou a Igreja de Santa Maria Antiga, no sopé do Palatino, onde um retrato seu, pintado em vida, ainda é preservado. Ele cuidou dos arquivos eclesiásticos, incentivou a agricultura nas terras da Igreja e beneficiou a Abadia de Monte Cassino, onde Ratchis e Carlomano (irmão de Pepino, que também se tornou monge) viveram. Proibiu o tráfico de escravos cristãos por mercadores venezianos, comprando-os para libertá-los, e em 745 convocou um sínodo em Roma para coibir a veneração excessiva de anjos.
São Zacarias faleceu em 15 de março de 752 (algumas fontes citam 14 ou 22 de março), aos 73 anos, após quase 11 anos de pontificado. Foi sepultado na Basílica de São Pedro, e seu culto como santo começou logo após sua morte. Seu pontificado é lembrado como um período de transição que preparou o terreno para a reforma da Igreja e o fortalecimento do papado como poder temporal e espiritual.
Embora poucos detalhes de sua espiritualidade pessoal sejam registrados, sua vida reflete uma dedicação à paz, à justiça e ao serviço aos necessitados, alinhada ao Evangelho. Sua canonização não seguiu um processo formal moderno, mas foi reconhecida pela tradição da Igreja, que o venera como santo desde cedo. Sua festa é celebrada em 22 de março, exceto em alguns calendários locais que mantêm o dia 15.
São Zacarias é visto como um “baluarte da Igreja numa época de transição”. Ele consolidou a independência papal do Império Bizantino, fortaleceu laços com os francos e garantiu a sobrevivência dos territórios da Igreja frente aos lombardos. Sua diplomacia evitou guerras e abriu caminho para a cristandade ocidental florescer sob os carolíngios. Na Suíça, ele é às vezes confundido com São Nicolau de Flüe devido à proximidade de suas festas, mas são figuras distintas.