São Cirilo de Jerusalém nasceu por volta do ano de 315. Não se sabe sobre sua infância e juventude, além de que ele cresceu num lar cristão, com uma boa vida financeira.
Outros beatos e santos que a Igreja faz memória em 18 de março:
Santo Alexandre, bispo e mártir, que, tendo vindo da Capadócia para Jerusalém, exerceu o ministério pastoral nesta Cidade Santa. Fundou uma biblioteca e abriu escola. [† c. 250]
São Frigdiano, bispo, natural da Irlanda, que congregou clérigos num mosteiro, para benefício do povo desviou o curso do rio Sérchio [† c. 588]
São Leonardo, que viveu recluso numa pequena cela, onde resplandeceu pela sua admirável abstinência e humildade, na atual Fança [† c. 593]
São Bráulio, bispo, que ajudou Santo Isidoro, de quem foi grande amigo, a restaurar a disciplina eclesiástica em toda a Hispânia e foi seu digno sucessor na eloquência e sabedoria [† 651]
Santo Eduardo, rei dos Ingleses, dolosamente assassinado ainda jovem pelos servos da madrasta [† 978]
Santo Anselmo, bispo de Lucca. [† 1086]
São Salvador Grionesos de Horta, religioso da Ordem dos Frades Menores [† 1567]
Beatos João Thules, presbítero, e Rogério Wrenno, mártires de Cristo no reinado de Jaime I, na Inglaterra [† 1616]
Beata Marta (Amata Le Bouteiller), virgem das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia [† 1883]
Beata Celestina da Mãe de Deus (Maria Ana Donáti), virgem, fundadora da Congregação das Filhas Pobres de São José de Calasans, na Itália [† 1925].
São Cirilo de Jerusalém
São Cirilo de Jerusalém (em latim, Cyrillus Hierosolymitanus) é uma figura proeminente da Igreja primitiva, conhecido como bispo, teólogo e Doutor da Igreja. Ele viveu no século IV e é especialmente lembrado por suas Catequeses, um conjunto de instruções para catecúmenos que oferecem uma visão clara e acessível da fé cristã. Sua vida foi marcada por desafios, incluindo exílios devido a controvérsias teológicas, mas também por um profundo compromisso com a educação dos fiéis e a defesa da ortodoxia. Aqui está um relato detalhado sobre sua vida, obra e legado:
São Cirilo nasceu por volta de 313 ou 315 em Jerusalém, na então província romana da Palestina. Pouco se sabe sobre sua infância e família, mas presume-se que ele veio de uma família cristã, dado o ambiente fortemente religioso de Jerusalém, uma cidade sagrada para o cristianismo desde os tempos apostólicos. Ele recebeu uma educação sólida, provavelmente em Cesareia Marítima, um centro intelectual da época, onde aprendeu grego, retórica e teologia. Sua formação o preparou para o papel que desempenharia como catequista e bispo.
Cirilo foi ordenado presbítero por volta de 345 pelo bispo Máximo de Jerusalém, um defensor da ortodoxia nicena contra o arianismo, uma heresia que negava a divindade plena de Cristo. Como presbítero, Cirilo destacou-se por sua habilidade em ensinar os catecúmenos (os que se preparavam para o batismo), uma tarefa que ele continuou a refinar ao longo de sua vida.
Em 348 ou 350, após a morte de Máximo, Cirilo foi consagrado bispo de Jerusalém. Sua eleição, porém, foi controversa. O Império Romano estava dividido entre os ortodoxos, que seguiam o Concílio de Niceia (325), e os arianos, apoiados por muitos imperadores. Acacius, o bispo ariano de Cesareia e metropolita da Palestina, alegou ter influenciado a escolha de Cirilo, sugerindo que ele poderia ter simpatias arianas. No entanto, os escritos de Cirilo mostram que ele era firmemente ortodoxo, embora evitasse confrontos diretos em um primeiro momento para manter a paz.
Seu episcopado foi tumultuado, marcado por três exílios:
Primeiro Exílio (357-358): Acacius acusou Cirilo de desobediência e de vender bens da Igreja para ajudar os pobres durante uma fome, uma prática que, embora caritativa, foi usada contra ele. Cirilo foi deposto e exilado por um sínodo ariano, mas retornou com a ascensão do imperador Juliano, o Apóstata.
Segundo Exílio (362-363): Após um breve retorno, Cirilo foi novamente exilado por ordem de Juliano, que favorecia o paganismo e via os bispos cristãos como ameaças. Ele voltou após a morte de Juliano.
Terceiro Exílio (367-378): O imperador Valente, um ariano, baniu Cirilo por mais de uma década. Durante esse período, ele viveu na Ásia Menor, possivelmente em Tarso, continuando a pregar e ensinar. Seu retorno definitivo ocorreu em 378, com a ascensão de Teodósio I, que declarou o cristianismo niceno a religião oficial do Império.
Apesar desses desafios, Cirilo permaneceu em Jerusalém como bispo por cerca de 35 anos, dos quais quase metade passou no exílio. Ele participou do Concílio de Constantinopla em 381, que reafirmou o Credo de Niceia e condenou o arianismo, consolidando sua posição como defensor da fé ortodoxa.
A maior contribuição de São Cirilo são suas Catequeses, divididas em dois grupos:
Catequeses Pré-Batismais (18 palestras): Dirigidas aos catecúmenos durante a Quaresma, elas explicam os fundamentos da fé cristã, como o pecado, o arrependimento, o batismo, o Credo e a luta contra o mal. Cirilo usava linguagem simples e exemplos práticos, muitas vezes baseados na liturgia de Jerusalém.
Exemplo: "O batismo é um resgate para os cativos, o perdão dos pecados, a morte do pecado e o renascimento da alma."
Catequeses Mistagógicas (5 palestras): Ministradas na Semana Santa aos recém-batizados, elas detalham os sacramentos do batismo, da crisma e da Eucaristia, enfatizando seu significado espiritual e a presença real de Cristo na Eucaristia.
Esses textos são um tesouro teológico, pois oferecem uma visão da liturgia e da catequese do século IV, além de mostrar como a Igreja educava os convertidos em uma era de transição do paganismo para o cristianismo.
Defesa da Ortodoxia: Embora Cirilo evitasse termos técnicos como homoousios ("consubstancial") em suas catequeses para não confundir os fiéis, ele apoiava plenamente a divindade de Cristo e do Espírito Santo, alinhando-se ao Credo de Niceia.
Liturgia de Jerusalém: Ele ajudou a desenvolver a liturgia local, que influenciou outras tradições cristãs. Suas descrições da Semana Santa e dos sacramentos são algumas das mais antigas que possuímos.
Relíquias e Lugares Santos: Como bispo de Jerusalém, Cirilo valorizava os locais associados à vida de Cristo, como o Santo Sepulcro, e relatou o suposto achado da Vera Cruz por Santa Helena, mãe de Constantino.
São Cirilo morreu em 18 de março de 386 ou 387, em Jerusalém, após anos de serviço e exílio. Ele foi reconhecido como santo logo após sua morte, devido à sua santidade pessoal e ao impacto de seu ministério. Em 1883, o Papa Leão XIII o declarou Doutor da Igreja, um título dado a apenas 37 santos por sua contribuição teológica excepcional.
Festa Litúrgica: Celebrada em 18 de março na Igreja Católica e Ortodoxa.
Padroeiro: Embora não tenha um patronato específico como São Patrício (Irlanda) ou São José (trabalhadores), Cirilo é um modelo para catequistas, teólogos e bispos.
Influência: Suas Catequeses são estudadas até hoje por teólogos e historiadores, oferecendo uma janela para a Igreja primitiva. Ele também inspirou a tradição catequética que perdura na preparação para os sacramentos.
Embora menos cercado de lendas do que outros santos, um evento notável associado a Cirilo é a aparição de uma cruz luminosa no céu de Jerusalém em 351, relatada em uma carta ao imperador Constâncio II. Ele viu isso como um sinal divino, fortalecendo a fé dos cristãos em um período de perseguição ariana.
Uma oração tradicional pode ser:
"Ó São Cirilo, pastor e mestre da Igreja, que com sabedoria e paciência guiaste os fiéis ao coração de Cristo, intercede por nós. Ilumina-nos com tua doutrina, fortalece-nos com tua fé e guia-nos aos mistérios sagrados que tão bem ensinaste. Por tua intercessão, que possamos viver plenamente o batismo e a Eucaristia. Amém."
São Cirilo de Jerusalém é um exemplo de resiliência, humildade e dedicação à educação cristã. Em meio a exílios e controvérsias, ele permaneceu fiel à sua missão de formar discípulos de Cristo, deixando um legado duradouro como um dos grandes Doutores da Igreja. Sua vida e escritos continuam a inspirar a Igreja em sua tarefa de ensinar e santificar.