Santos Rodrigo e Salomão são os mártires de Córdova, na Espanha. Juntos com São Eulógio e tantos outros, deram o testemunho de Cristo com as virtudes cristãs e, depois, com o martírio.
Outros beatos e santos que a Igreja faz memória em 13 de março:
Santos mártires Macedônio, presbítero; Patrícia, sua esposa; e Modesta, sua filha. Em Nicomédia, na Bitínia, hoje Izmit, na atual Turquia († data inc.)
São Sabino, mártir em Hermópolis, no Egipto († s. IV)
Santa Cristina, mártir na Pérsia, no atual Irão († 559)
São Piêncio, bispo em Poitiers, na Aquitânia, na hodierna França († s. VI)
São Leandro, bispo em Sevilha, na Hispânia, irmão dos santos Isidoro, Fulgêncio e Florentina († c. 600)
Santo Eldrado, abade no mosteiro de Novalesa, junto ao Moncenísio, no vale de Susa, atualmente no Piemonte, região da Itália († c. 840)
Santo Ansovino, bispo em Camerino, no Piceno, na actual região das Marcas, na Itália († 868)
Beato Pedro II, abade no mosteiro de Cava de’ Tirréni, na Campânia, também região da Itália († 1208)
Beato Agnelo de Pisa, presbítero em Oxford, na Inglaterra († c. 1236/1275)
Beata Francisca Tréhet, virgem da Congregação da Caridade e mártir em Ernée, no território de Mayenne, na França († 1794)
Santo Rodrigo
Santos Rodrigo e Salomão são mártires cristãos venerados pela Igreja Católica, conhecidos por seu testemunho de fé durante as perseguições aos cristãos no Emirado de Córdova, na Espanha do século IX. Eles fazem parte do grupo conhecido como os "Mártires de Córdova", que sofreram sob o domínio muçulmano na Península Ibérica. Suas vidas exemplificam coragem, fidelidade a Cristo e resistência diante da opressão. Abaixo está um relato detalhado sobre eles.
No início do século IX, a Península Ibérica estava sob o controle do Emirado de Córdova, parte do território islâmico de Al-Andalus, conquistado pelos muçulmanos em 711 a partir do Reino Visigótico cristão. Córdova, então um importante centro cultural e político, abrigava uma população mista de muçulmanos, cristãos (moçárabes) e judeus. Os cristãos, embora tolerados como "povos do livro" sob a lei islâmica (Charia), eram subordinados, pagavam um imposto especial (jizya) e enfrentavam restrições. Entre 850 e 859, durante os reinados dos emires Abderramão II e Maomé I, houve uma onda de perseguições mais intensas contra cristãos que desafiavam publicamente o islã ou se recusavam a abandonar sua fé.
Foi nesse ambiente que os Mártires de Córdova, incluindo Rodrigo e Salomão, emergiram. Liderados espiritualmente por figuras como São Eulógio (que também foi martirizado), esses cristãos optaram por proclamar sua fé abertamente, muitas vezes enfrentando a morte como consequência.
Rodrigo (em latim, Rodericus) era um sacerdote cristão moçárabe nascido em Cabra, uma cidade próxima a Córdova. Viveu no início do século IX e pertencia ao clero local. Ele tinha dois irmãos: um cristão (descrito como "mau cristão" ou negligente na fé) e outro muçulmano (provavelmente convertido ao islã ou nascido em um casamento misto, algo comum na época). Esses irmãos frequentemente entravam em conflito, refletindo as tensões religiosas e familiares da sociedade moçárabe.
Certa vez, ao tentar separar uma briga entre os dois, Rodrigo foi atacado por ambos e gravemente ferido, ficando inconsciente. O irmão muçulmano aproveitou a situação para difamá-lo: colocou Rodrigo em uma padiola e o levou pelas ruas de Córdova, anunciando falsamente que ele havia se convertido ao islã e desejava ser reconhecido como muçulmano antes de morrer. Quando Rodrigo recobrou os sentidos, profundamente humilhado e temendo por sua vida, fugiu para as montanhas próximas, onde viveu em oração e isolamento, retornando à cidade apenas para buscar alimentos.
No entanto, seu esconderijo foi descoberto, e o mesmo irmão muçulmano o denunciou às autoridades islâmicas, acusando-o de apostasia — um crime grave sob a Charia, pois supostamente teria abandonado o islã após "convertê-lo" publicamente. Levado perante um juiz (cádi), Rodrigo afirmou com firmeza: "Nasci cristão e cristão hei de morrer", negando qualquer conversão ao islã. O cádi, rejeitando sua defesa, ordenou sua prisão.
Menos se sabe sobre Salomão antes de sua prisão. Ele era um cristão, possivelmente também moçárabe, que foi capturado por sua fé, talvez por professá-la publicamente ou por se recusar a pagar o imposto exigido aos não muçulmanos. Sua história se entrelaça com a de Rodrigo quando ambos se encontraram na mesma prisão em Córdova. Apesar da falta de detalhes sobre sua vida pregressa, Salomão é lembrado por sua firmeza e pela amizade que desenvolveu com Rodrigo no cárcere.
Na masmorra, Rodrigo e Salomão transformaram sua cela em um "oratório", um espaço de oração e louvor a Deus. Ali, fortaleceram-se mutuamente, cultivando uma amizade profunda baseada na fé comum. Eles se encorajaram a permanecer fiéis, mesmo sob ameaças e tentativas das autoridades de fazê-los renunciar ao cristianismo. O juiz, ao saber de sua resistência, ordenou que fossem separados, na esperança de quebrar seu espírito. Mas a tática falhou: ambos mantiveram-se inflexíveis.
Finalmente, em 13 de março de 857, Rodrigo e Salomão foram condenados à morte por decapitação. No local do suplício, às margens de um rio em Córdova, eles reafirmaram sua fé cristã. Ajoelharam-se, abraçaram um crucifixo e entregaram suas vidas, sendo degolados pelos algozes. Seus corpos foram jogados no rio, uma prática comum para evitar que os cristãos os recuperassem como relíquias, embora, segundo a tradição, os fiéis locais tenham conseguido resgatá-los.
A história de Rodrigo e Salomão foi preservada graças a São Eulógio, outro mártir de Córdova, que escreveu o Memorial dos Santos (Memoriale Sanctorum) em 852, antes de seu próprio martírio em 859. Eulógio, um sacerdote que documentou os sofrimentos dos cristãos de sua época, conhecia Rodrigo pessoalmente e relatou seu martírio com detalhes, destacando sua coragem e santidade. Salomão, embora menos descrito, é igualmente celebrado como companheiro de martírio.
Rodrigo e Salomão são comemorados no dia 13 de março, data de seu martírio. Eles fazem parte dos Mártires de Córdova, um grupo de cerca de 48 cristãos executados entre 850 e 859, cuja memória foi oficialmente reconhecida pela Igreja Católica. Embora não tenham sido canonizados em um processo formal moderno (como ocorre hoje), sua santidade foi confirmada pela tradição e pelo culto popular, prática comum na Igreja primitiva e medieval.
Rodrigo, em particular, é lembrado em Cabra, onde o Convento e Hospital de São Rodrigo, fundado no século XVI, leva seu nome. Ambos são vistos como símbolos de fidelidade a Cristo, mesmo sob pressão extrema, e sua história inspira os cristãos a perseverar na fé diante das adversidades.
Embora não haja uma oração oficial específica para eles, uma tradicionalmente associada é:
"Ó São Rodrigo e São Salomão, mártires de nosso Senhor Jesus Cristo, que diante do juiz declarastes com coragem vossa fé cristã! Oferecei ao Senhor os vossos méritos em nosso favor, para que tenhamos uma fé forte e verdadeira, que não se abale diante das dificuldades, mas permaneça firme, ainda que ao preço do martírio. Rogai por nós!"
A vida de Santos Rodrigo e Salomão reflete o drama dos moçárabes, cristãos que viviam sob domínio muçulmano, equilibrando sua identidade religiosa em um contexto hostil. Sua resistência não foi apenas um ato de fé pessoal, mas também um testemunho coletivo que fortaleceu a comunidade cristã da época. Hoje, eles são exemplos de como a amizade e a fé podem sustentar alguém nos momentos mais sombrios.
Assim, esses santos mártires permanecem como faróis de esperança e determinação para os fiéis, lembrando que o amor a Cristo pode superar até mesmo as maiores provações.